29 abr Sem Avianca Brasil, setor de aviação vai ficar mais concentrado e preço das passagens pode subir
O provável fim da Avianca Brasil vai mudar a equação do mercado aéreo nacional. Para os consumidores, o risco é de haver aumento no valor das passagens. Para as empresas do setor, o desafio é dar conta de atender a demanda de viajantes que será herdada da quarta maior companhia do país.
De imediato, a saída de cena da Avianca Brasil vai ampliar a concentração em um setor já marcado por poucas opções para os consumidores, o que tende a provocar uma alta dos preços dos bilhetes aéreos. Os últimos dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) mostram que, no segundo trimestre do ano passado, a tarifa média de voos domésticos foi de R$ 321,78, uma queda de 3,9% em relação ao mesmo período do ano anterior.
No primeiro trimestre de 2019, Gol, Latam e Azul foram responsáveis por quase 88% dos embarques em voos nacionais, de acordo com a Anac. A Avianca respondeu por 11,9% da demanda, enquanto as demais companhia aéreas tiveram uma participação bem modesta, de apenas 0,4%.
“Para o consumidor, é péssimo acabar com a Avianca. É um concorrente a menos, é um modelo de negócio a menos. É ruim para o consumidor e para a sociedade”, afirma o professor de transporte aéreo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Respicio do Espírito Santo.
Recuperação fracassada
A Avianca Brasil entrou em recuperação judicial em dezembro do ano passado. Sem dinheiro para pagar as empresas que fazem o empréstimo de aeronaves, a companhia se viu ameaçada pelas companhias de leasing e teve de recorrer à Justiça para tentar manter as operações enquanto buscava uma solução para a crise.
A estratégia não deu certo. Mesmo em recuperação judicial, a companhia foi acionada pelas companhias arrendadoras de aeronaves e teve de devolver quase a totalidade da sua frota. A partir desta segunda-feira (29), a companhia só vai operar em quatro aeroportos.
Nos últimos dias, clientes da companhia têm enfrentado problemas em diversos pontos do país por conta do cancelamento de voos. Em Recife, passageiros dormiram no aeroporto para tentar uma vaga em outros voos. No aeroporto de Guarulhos (SP), o maior do país, houve confusão na sexta-feira.
Segundo a Avianca, 1.176 voos serão cancelados de domingo até quinta-feira.
“A demanda de viagens não é algo que se reprime até que ocorra um novo salto da oferta”, afirma Paulo Resende, professor da Fundação Dom Cabral. “O movimento que devemos observar é uma transferência quase linear, sem fidelização entre as companhias.”
No início do mês, os credores aprovaram o plano de recuperação judicial da Avianca. A decisão foi por dividir os ativos da companhia aérea em sete Unidades Produtivas Isoladas (UPIs).
As UPIs englobam o programa de fidelidade da Avianca Brasil e os slots (direito de pousar e decolar nos aeroportos) de voos operados pela companhia em Congonhas, Santos Dumont e Guarulhos. O leilão deve ocorrer em 7 de maio.
A Latam e a Gol confirmaram interesse em parte dos ativos da Avianca. A Azul, no entanto, foi a primeira companhia aérea a fazer uma proposta por parte dos ativos da companhia, mas decidiu deixar a disputa. O presidente da Azul, John Rodgerson, acusou as concorrentes de protecionismo por não permitir que a empresa possa operar o trecho da ponte aérea.
“Para a empresa, ganhar o leilão será benéfico porque vai agregar valor. São voos em aeroportos movimentados”, afrma Bruna Pezzin, analista da XP Investimentos.
O que vai a leilão da Avianca — Foto: Rodrigo Sanches/Arte G1 O que vai a leilão da Avianca — Foto: Rodrigo Sanches/Arte G1
O que vai a leilão da Avianca — Foto: Rodrigo Sanches/Arte G1
A Avianca Brasil é a marca comercial da Oceanair Linhas Aéreas S.A. (“Oceanair”) e, portanto, não faz parte do grupo de companhias da Avianca Holdings S.A, com sede na Colômbia. No entanto, ambas integram o grupo controlado pelo mesmo investidor, o empresário brasileiro German Efromovich.
Mercado concentrado e espera por estrangeiros
Ao longo das últimas décadas, o mercado aéreo brasileiro foi marcado por um aumento da concentração e por sucessivas histórias falências – na lista, por exemplo, estão Varig, Transbrasil, Vasp, entre outras.
As empresas do setor são bastante dependes do comportamento do mercado local. Em relatório publicado na quinta-feira, os analistas do banco UBS estimaram que os voos que decolam e chegam no Brasil representam 100% da receita da Gol e da Azul e tem uma fatia de 50% na receita da Latam. Essa relação é de 15% na Copa Airlines e de apenas 3% na holding da Avianca.
De forma geral, as companhias aéreas que seguem operando dão sinais de que conseguiram superar o pior da crise econômica. Os custos das aéreas foram afetados pelo aumento do preço do petróleo e pelo movimento do câmbio. “As empresas do setor conseguiram passar bem por esse período de crise”, diz Bruna Pezzin, analista da XP Investimentos.
A expectativa agora é pela entrada de estrangeiras no setor. No fim do ano passado, uma medida provisória assinada pelo então presidente Michel Temer liberou 100% de capital estrangeiro nas empresas de companhias aéreas. A proposta foi aprovada esta semana por uma comissão mista do Congresso, mas ainda passará por votações na Câmara e no Senado antes de virar lei – as maiores companhias já têm participação limitada de capital externo.
Uma eventual entrada de novos concorrentes do setor vai depender obviamente das expectativas de crescimento do setor, avaliam os analistas. No primeiro trimestre, a demanda doméstica de passageiros cresceu 4,3%.
“O bom capital lá fora pode se interessar pelo mercado brasileiro. Mas será preciso de sinais positivos do setor”, diz Respicio.
Fonte: G1